Dec 14, 2007

jeitinho russo

durante a guerra fria os soviéticos sempre arranjaram algum jeitinho para fazer com que os seus companheiros tivessem, ou ao menos achassem que tinham, aqueles mesmos bens que as pessoas do ocidente capitalista adoravam ostentar.

o exemplo mais visível disso é o Lada Riva. além de ser um dos carros mais poluentes que o mundo já teve notícia, ele parecia ter sido desenhado por um criança na quarta série do primário com pressa no fim da aula. foi essa gambiarra de baixíssimo custo que permitiu que boa parte da URSS dirigisse sobre quatro rodas. tardiamente, o carro chegou no Brasil de Collor atendendo pelo simpático nome canino de Laika. sua baixa qualidade não impediu que ele se tornasse um objeto de culto ao redor do mundo. não à toa, foi o segundo carro mais vendido da história, perdendo somente para os besouros alemães.

muito além da indústria automobilística, os russos transcenderam sua embromação no que se refere à fotografia.

um dos exemplos disso são as câmeras LOMO. mesmo com todos os flickrs e câmeras digitais por aí, ela tomou o mundo e agora tem um culto quase equivalente ao das câmeras leica, que são as melhores da história.

a indústria lomo surgiu em 1914 para servir aos propósitos da I Guerra Mundial, fazendo lentes e armamentos. é ela própria que produz a primeira câmera fotográfica russa em 1930, somente décadas depois da terra do Tio Sam.

não pense que por ter surgido muito muitos anos depois do Sr. Kodak popularizar a fotografia nos EUA que a máquina lomo deveria ter uma qualidade que faça jus ao seu tempo. é a lomo quem prova o conceito, as vezes pouco palpável, de que fotografia não é a realidade. suas fotos são altamente contrastadas, distorcidas e confusas. mas, é claro, gozam de um charme invejável!

seu "ápice" se deu no começo da década de 80 quando a já tradicional indústria Lomo, sediada em São Petersburgo, recebeu ordens do general russo Igor Petrowitsch para produzir uma cópia da câmera japonesa Cosina CX2. a idéia era de que todos os russos tivessem essa cópia, batizada de Lomo LC-A, em casa. a imitação, é claro, não foi tão fiel assim. o que sobrou da ordem militar foram fotos incríveis como essa:

a Rússia achou que podia popularizar a fotografia com uma câmera barata e vagabunda. já os comunistas tchecos acharam uma solução ainda mais criativa para sua falta de verba: encartar uma câmera de papel em meio a uma revista estatal.

como assim? assim: em 1979, eles publicaram na revista ABC mladých techniků a přírodovědců uma folha de alta gramatura que, se dobrada e cortada corretamente nas linhas pontilhadas, podia ser transformada em uma incrível câmera pinhole. mais que no sputnik ou que nas olimpíadas do ursinho, foi na câmera de papel tcheca que o comunismo teve seu ápice, mostrando o que realmente significa dar oportunidade igual a todas pessoas de forma ridiculamente barata.

enquanto isso, na década de 90 brasileira, as nossas revistas ainda encartavam, com os mesmos pontilhadinhos, coisas como dados ou enfeites de natal. convenhamos de que nada adianta o terno branco e o chapéu de palha: em termos de malandragem, os soviéticos nos deixam no chinelo.

Nov 1, 2007

lembrei de mais uma que rolou num ponto de ônibus

nessa cena, eu também estava com os fones de ouvido. daquela vez, lembro bem, ouvia slayer pois faltavam poucos dias para o show.

quem interrompeu minha concentração no pedal duplo foi um velhinho bem vestido. ele abanava, apontava pro chão. abanava e apontava pro chão, de novo.

quando finalmente tirei o fone, entendi o que ele falava: era para eu parar de sentar em cima do corrimão e tirar os pés de cima do banco. e sentar no banco, que é o lugar de sentar. afinal já imaginou se uma criança põe a mão aí onde você está com o pé e depois põe na boca?

fiquei perplexo. o ponto inteiro olhava pra mim, esperando a reação que eu iria esboçar. desanimado com a insistência do velhinho, desci do corrimão para não causar intriga. enquanto isso ele ia embora com o sorriso da vitória estampado no rosto.

nesse momento, todos no ponto seguiam olhando para mim, ainda apreensivos. talvez esperando um desfecho. naquela hora, eu ainda achei que eles me entendiam. afinal todo mundo sabe que não se senta nos bancos dos pontos de ônibus em são paulo: eles foram feitos de forma desconfortável para que ninguém conseguisse dormir neles. você pode sentar reto, torto ou de revesgueio.. não tem como: o banco sempre fica desconfortável.

a única solução para isso, que qualquer pessoa sem atrose já descobriu, é sentar em cima do corrimão. mas ninguém ali no ponto entendia isso, todos seguiam quietos, ainda esperando alguma frase de efeito.

e a frase veio duma senhora, que aparentava estar na idade da menopausa: veja essa geração, com ela estamos perdidos! eles não vão nem querer pagar nossa aposentadoria.

fiquei completamente perplexo, mudo. com a mesma sensação que se deve sentir ao ouvir de sua namorada te traí com seu melhor amigo.

logo, a tia entrou no seu ônibus. triunfante, vitoriosa. não consegui falar Você não vai ter aposentadoria porque sua geração trepou pouco e não fez filho para pagá-la! Ou quem sabe Já ouviu falar de welfare state, sua vaca? É na suécia, não aqui! vai tomar no seu cu e faz uma previdencia privada!

nada, não consegui falar nada! entrei no meu ônibus e fui embora. derrotado. duas vezes.

Oct 31, 2007

tem coisas na nossa vida que não mudam nunca

juro que não conseguia parar de sorrir ao ver isso!
sentado no ponto de ônibus com o fone de ouvido, eu não entendi o que me falavam e gesticulavam de dentro do carro desconhecido.

ao liberar minhas orelhas, não acreditei: finalmente ouvi umas das coisas que mais esperei durante minha vida universitária: quer carona?

em todos meus dias na usp me perguntei porque diabos aquelas pessoas sozinhas, ou quase, passavam reto com suas máquinas pelos pontos de ônibus cheios de gente, sem oferecer um banco livre para ninguém. com certeza algum dos usuários do transporte público iria embora pela mesma saída da cidade universitária que o motorista.

a desculpa do medo não vale: os caroneiros em potencial são seus coleguinhas da elite intelectual tupiniquim. os mesmo que você pede se tem ticket pra vender no bandejão ou para te ajudar a tirar a mala do armário da biblioteca quando você esquece a senha dele.

numa ilha feita para carros, que o pessoal costuma chamar de campus, sempre senti falta de ganhar caronas de pessoas aleatórias, e quem sabe finalmente conhecer gente de outras unidades.

só tive um problema nessa hora: me ofereceram o caminho da cidade jardim. eu ia pra vila madalena.

mas, mesmo assim, quase aceitei.

Oct 11, 2007

talvez a coisa mais útil da internet tenha sido a criação de databases em que você acha qualquer informação pontual sobre determinado assunto.

no imdb, você consegue descobrir o roterista daquele décimo sétimo episódio da quinta temporada daquela série que foi descontinuada na década de oitenta e que você gostava tanto.

no allmusic guide, você consegue descobrir qualquer coisa que você quiser sobre seu harpista paraguaio preferido.você pode até ficar sabendo sobre todas as coletâneas de world music em que ele apareceu nos estados unidos na época em que a new age era hype.

já no ipdb, você descobre até o peso daquela máquina de pinball do twister que você jogava em meados da década de 1990.

pinball? isso. o international PINBALL database é incrível!

tem fotos, ratings de usuários, dados técnicos, bibliografia e até emuladores para você jogar aquele pinball temático do central park que eu sei que você gosta tanto!

Oct 9, 2007

quando pequeno eu queria tocar harpa.

tudo bem, eu queria tocar harpa tanto quanto eu queria tocar gaita de fole, oboé, saxofone ou banjo. tanto quanto eu queria ser presidente, corredor de 800m ou dono da legolândia. mas que eu queria tocar harpa, eu queria.

engraçado que, apesar desse meu desejo, nunca tinha visto uma harpa até semana passada.

vi pela primeira vez num show da joanna newsom. uma menina descolada, de vinte e quatro anos, que foi apadrinhada por dois grandes produtores do underground americano: steve albini (nirvana, pixies, slint e metade do pós-rock) e jim o`rourke (wilco, sonic youth e chicago inteira).
com a a benção dos dois, a menina caiu nas graças da crítica e esteve em quase todas listas de melhores do ano passado (inclusive na minha).

vendo o show, lindíssimo, pensei que talvez todoa essa pagação de pau em torno dela fosse em torno da harpa. pense comigo: provavelmente ninguém tinha ouvido uma harpa antes de ouvir o som da menina.

também, é fácil perceber porque ninguém nunca tinha visto uma daquelas na vida. ela tem tantas cordas quanto um piano mas tem cara de que desafina tão fácil quanto um violão. além disso, olha o tamanho daquela badolha: tem o dobro da harpista. por vídeos ainda deu para descobrir que aquela é a mesma harpa que a jovem usava na sua turnê americana. pergunta: como diabos ela trouxe aquele trambolho para o brasilsão? além disso, devido ao seu som aboiolado, a harpa some muito facilmente perto de outros instrumentos. coisa de gente sem amigos.

mas prefiro acreditar que o som dela que é incrível mesmo, que ela ouviu o que ninguém nenhuma outra harpista ouviu. a wikipedia até me ajuda com essa tese: diz que ela escutou muita música polirritimica, tipo afrobeat, saca? ai uma mão dela faz um ritmo, outra mão outro... tipo o baterista do rush, só que com suíngue! e fica uma loucura!!! quero acreditar que ela ouviu muito sabbath também!

mas ainda vou atrás de conhecer outras harpistas. e não vai ser da música clássica, vai ser do paraguai. lá, uma harpa mais humilde, pra não dizer meia-boca, é o instrumento nacional. tipo o violão aqui. só não sei ainda por onde começar minha busca pelo baden powell guarani.

May 24, 2007

cansado de me foder toda vez que ia num restaurante diferente e arriscava uma pimenta inédita, achei que deveria ser criado uma escala para medir a ardência delas. A idéia era ótima: você pega o rótulo, olha a ardência, lembra quantas gotas acha necessário e pronto! Nada de pratos insossos ou, pior, queimando frios.

Lembre-se que enquanto o nosso mundo terreno cresce num ritmo frenético, o mundo das idéias de Platão está lá, minguando há milhares de anos conforme os humanos pegam as coisas de lá. Portanto a chance de alguém já ter tido sua idéia é sempre grande, e essa seguiu a lógica.

O cara que ferrou minha chance de ter dinheiro, fama e meu peso em pistache era chamado Wilbur Scoville. Em 1923 o cara criou uma medida para a apimentação das coisas: a escala de... Scoville! Genial, ela, obviamente, mede a quantidade de capsaicina na pimenta!

Capsaicina? Isso! A substância que faz arder na pimenta. Na época, ele colocava provadores humanos(!) para sentir a ardência da coisa. O grau dependia de quantos litros de água com açucar eram necessários para diluir a pimenta a ponto de ela ser neutralizada.

Com o tempo a coisa se ajeitou, afinal, deixar a galerinha tomando água apimentada não era nada científico e, muito menos, politicamente correto.

Hoje em dia, com computadores, a coisa manteve o mesmo princípio dos litros de água para neutralizar a pimenta. A escala vai de 0 (o pimentão) até 16.000.000(a tal da capsaicina, pura).

O amado molho tabasco verde chega a meras 800 unidades Scoville. Já o tabasco vermelho, mais arisco, pode chegar a 5,000. Fortes? Não muito, encarar uma habanero chilena, com 350,000 unidades Scoville, não deve ser tarefa fácil. São setenta vezes o poder do molho vermelho da Tabasco.

Daí pra cima, a coisa já não é nada ingerível: o spray de pimenta usado pela polícia chega a 5.300.000 unidades Scoville. Efeito moral? Só se a moralidade for algo mil vezes mais forte que uma Tabasco pingado diretamente no seu olho.

Obrigar todas as pimentas a terem o seu grau gravado no rótulo a priori seria uma idéia muito boa: nada mais de ardência, lábios amortecidos e uma diminuída considerável no gasto em água. Mas a graça da pimenta está na sua aleatoriedade, na coragem de enfrentar um molho feio num boteco ainda mais feio. No fim das contas, é esse aleatório molho colorido que traz emoção a tão entediante e repetitiva comida cotidiana.

May 23, 2007

saps

Devo ter tocado violão seriamente durante dois anos da minha vida. Jogado xadrez durante uns três. Tênis durante uns dois. Os outros esportes também nunca passaram disso. Fui volúvel em todas as ideologias políticas, sem nunca durarem mais que três ou quatro anos, e nunca abracei uma religião muito fortemente. A faculdade chega capengando aos três anos e não acredito que qualquer uma das minhas paixões atuais vá muito longe.

De escotismo, foram dez.

Nenhuma paixão na minha vida foi tão grande. Nenhuma chegou perto de durar tanto tempo. Foi na semana passada, junto a minha impossibilidade de ir no próximo Jamboree, depois de muitas batalhas internas, que defini minha saída do movimento escoteiro de vez, justo quando o movimento beira seus fortemente simbólicos cem anos.

A vontade de eternizar aqueles que foram, e provavelmente serão, os dez anos mais fudidos da minha vida é grande.

Sontag falava que lembrar e eternizar algo num suporte, como um texto, é tosar essas lembranças, selecioná-las, castrá-las. Trazer algumas a tona em detrimentos de tantas outras seria fraco de minha parte, e de forma alguma um blog seria o lugar pra isso. Não farei isso.

Dizer aquele velho até logo confinado num apartamento, longe das nossas tão estimadas e estereotipadas fogueiras, é horrível.

May 6, 2007

fábula real.

um fazendeiro foi até a cidade falar com a sua psicóloga: queria matar um homem. seu motivo era uma disputa de terras, uma longa batalha entre sua família e a de seu vizinho.

intransigente, achava que a única solução para o impasse era o assassinato. porém, algumas horas de tratamento foram suficientes para que a psicóloga o convencesse que matar o vizinho não era a melhor forma de resolver a situação.

convencido pela psicóloga, tomou o caminho de casa.

no dia seguinte o fazendeiro foi assassinado pelo seu vizinho.

May 4, 2007

Apr 16, 2007

não deu.

Desisti. Depois de três semanas, larguei os bets. Não rolou. Já que não conseguir fazer o post que eu tanto queria, só me resta agora apelar para a metalinguagem para ao menos ver, afinal, porque não consegui fazer o post que tanto queria.

O projeto final era claro: falar do semi-obscuro show do the evens e convencer as pessoas que ele foi tão incrível quanto o show de roger waters tocando o dark side of the moon para um morumbi lotado.

O primeiro problema que enfrentei era manter o caráter "universal" que ultimamente tenho tentando manter aqui no blog. Se eu quisesse falar só para um nicho de pessoas esse trabalho seria bem mais simples. Falar que o líder do evens tocava no fugazi deveria ser um bom começo de review para todos fãs da banda.

A alternativa que eu tinha achado para manter o caráter universal da coisa seria explicar a paixão que eu e muitos outros temos pelo fugazi. Como de nada valem as minhas paixões, eu poderia apelar para um argumento de autoridade musical: o fugazi é a banda preferida de John Frusciante, guitarrista do Red Hot. Tá, mas até aí o Pink Floyd é a banda preferida de muito mais gente. Talvez apelar para a enorme influência de Mackeye serviria. Eu poderia dizer que ele ajudou a moldar o Hardcore, o Pós-Hardcore e o... Emo. Como a última moda é falar mal de Emo, mesmo sem saber donde veio esse termo, o passado dele ferraria tudo. Que tal falar que o Fugazi nunca fez camisetas, posters e merchan e, mesmo assim, vendeu mais de um milhão de cds? Muito indie. Além disso, somente o Dark Side vendeu mais de 50 milhões...

Aí reside outro problema: falar que algo que não seja os beatles ou o led é comparável ao floyd tem um que de heresia muito forte. Você é desmoralizado na hora e a discução acaba. Não se argumenta, fala-se é floyd. ponto. Tipo assim:

Po cara, não dava pra ver o Roger Waters!!! Cara, não reclama, era Floyd! Mas cara, eu tava trezentos metros longe do maluco!!! Meu, para.... era Floyd!!!

Poucos lembram-se mas... não era Floyd. Era um restinho daquilo. Claro, que saí do show estasiado também. Sequer poderia falar que não gostei. Gostei. Mas não pode-se parar pra pensar, senão certas coisas já vão por água abaixo. No show, em que Roger tenta ser Deus, a coisa é impessoal, distante e cara, muito cara. Da até pra se sentir enganado.

Depois de todos esses empecilhos retóricos, ainda é difícil explicar a incrível atmosfera do show de dez reais no Sesc. Eu não conseguia descrever bem o jeito que Ian pediu para os seguranças deixarem todos tirarem as fotos ou com que ele interagia com a platéia. Muito menos descrever o jeito com que todos na platéia sorriam.

Minha última tentativa para o post, seria descrever os momentos depois do término do show. Depois de agradecer a platéia, Ian despluga o violão calmamente e o guarda no case. Enrola os fios sozinho e também os guarda. Desce do palco em frente e vai em direção a platéia com quem conversaria bastante depois do show. Mas mesmo depois disso tudo, Roger Waters e seu aparato de incontáveis seguranças e roadies ainda seriam justificáveis. Afinal, era Floyd...

Mar 21, 2007

o piero e a britadeira

Finalmente me deparei com uma britadeira de verdade! Para mim elas sempre foram coisa de operários do começo do século XX, cuja maior utilidade na nossa época foi aparecer em desenhos incomodando o Pato Donald.

Apesar do charme do aparelho, engano seu se acha que esse meu encontro com ele foi prazeroso! Talvez o maior motivo desse desprazer tenha sido o horário: sete horas e dois minutos da manhã de uma terça-feira. Disposto a ferrar com a minha falta de rotina, a dita cuja me acordou de uma forma que nenhum despertador jamais seria capaz! O insuportável barulho dele é metálico, ritmado e vai ficando menos constante para o fim, como uma bolinha de gude de duas toneladas de ferro sendo jogado ao chão em intervalos irregulares.

Foi esse o meu contato com ela. Sequer a vi, pois as obras do metro não ficam ao alcance da minha janela. Como eu sabia que era realmente uma britadeira? Pela similaridade da forma do som com o das britadeiras dos desenhos animados. Similaridade que acabava por aí: o volume das tvs são mais baixos e o barulho tem fim nas animações. Na vida real, por sua vez ela fica quase uma hora sendo ligada em intervalos caóticos, que causavam a mesma agonia de uma crise de soluços. Quando se acreditava que ela havia finalmente parado e e era possível relaxar, o som metálico que premeditava a nova série de barulho vinha novamente à tona!

Quando eu consegui dormir? Não sei ao certo. Lembro de eu agoniado, rolando na cama com travesseiros sobre a minha cabeça e até pensando em ir para algum amigo próximo. Como numa crise de soluço, quando eu menos percebi, ele havia acabado. Ou seja, eu acordava com um telefonema duma amiga minha, demorando pra racionar que se eu estava acordando, eu havia dormido. E seu eu havia dormido, o barulho havia parado. E por grande sorte, naquela hora não haviam mais britadeiras na minha vida.

Mar 17, 2007

lembrei duma história que aconteceu no começo desse ano

Foi no meio da tarde. Eu estava numa dinâmica no prédio da Editora Abril, aquele da Marginal Pinheiros, tentando uma vaga para estagiário. Escrevia um texto sobre alguma coisa aleatória, do tipo como você se enxerga daqui a cinco anos?, quando, de repente, faltou luz. O prédio é de vidro, e a priori não teve treta, a luz continuava entrado e minha redação foi continuada. Mas, depois a treta veio: uma mulher entrou gritando na sala, ABRIU UM BURACO NO MEIO DA RUA!!! SAIAM QUE O PRÉDIO PODE CAIR!!! RÁPIDO PESSOAL, RÁPIDO!!!

Visto nossa situação de candidatos à vagas, hesitamos em sair até que recebêssemos o reconfortante podem ir! nós entramos em contato assim que possível pra remarcar. A partir daí, uma correria doida que logo depois foi interrompida por odiáveis portas giratórias.

Uma vez fora do prédio, tirando o choro de alguns e o movimento anormal de pessoas, não havia nada de estranho! Na curiosidade de sempre, fui atrás do tal buraco.

Quando virei a esquina, aí sim, vi o chão aberto! E daí, MANO! O que era aquilo... era um momento em que a vida imitava o cinema! Aquele não parecia um buraco digno de um metrô, mas do primeiro meteoro que preconiza o fim do mundo.

Na hora, o buraco ainda não tinha a fama que viria a ter nos dias vindouros, com direito a manchete no Jornal Nacional e capa na Folha de S. Paulo um mês depois. No meu momento supervaguardista, em que o buraco ainda era underground, a polícia recém chegava pra isolá-lo.

Minutos depois, indo até o sesc para um lanche, vem a ligação dum amigo meu, Rafael Duque, que trabalhava no Terra.

PIERO, você tá onde? Tá do lado da Abril??? Ótimo!!! Preciso duma foto do buraco do metrô pro site e tão pagando muito dinheiro! Vai ver se a máquina tá na tua mochila?? OK! Eu espero!!!

Volta três horas na historinha.

Eu, saindo de casa, percebo que a mochila está pesada. Abro ela, e penso Pra que eu preciso dum caderno e duma máquina fotográfica pra ir na Abril? Muito peso, vo deixar aqui.

Volta pro caminho do sesc.

Não, não Duque! Deixei minha máquina em casa. Sim cara, sei que é muito dinheiro... Quanto tempo pra eu pegar a máquina de novo??? Uma hora, pelo menos.... Não dá?? É muito tempo??? Beleza, esquece então cara... Fica pra próxima...

E desde então vivo sempre com a minha máquina a mão, a espera do próximo buraco no metrô que abrirá do meu lado...

Mar 7, 2007

escolha patológica

Você pegaria a Angelina Jolie ou a Scarlett Johansson? Prefere um show do Rage ou do Led? Base Jump ou Asa Delta? Morrer de Aids ou de Câncer? Dinheiro ou felicidade? Esse tipo de pergunta babaca e hipotética sempre me irritou profundamente. O problema é que me deparei com uma pergunta desse tipo, e que não era hipotética: Hipertireoidismo ou Cáries?

Explico-lhes: desde pequeno o flúor foi sempre meu brother. Esse halogênio me acompanhou desde o momento em que minha dentista virou pra mim e disse que esse esmalte aí nos molares vai te dar problema o resto da vida. você tem que usar flúor todo dia se você não quiser ter cáries!!!

Qualquer criança com pudor já sabe que cárie resulta em brocas e que brocas não são da hora. Foi por isso que usei o flúor regularmente durante toda, ou quase toda, minha vida.

Agora, pula uns 10 anos pra frente nessa história de pessoa esquecida, desorganizada e sem concentração.

O mesmo médico daquela história do Yakult manda: seu esquecimento, desorganização, unhas quebradiças e inquietamento são causado pela sua tireóide desregulada. você vai ter que tomar um synthroid 25mg e parar de usar flúor. vo te receitar uma pasta sem flúor e....

Para tudo!!! Era o flúor. Meu velho companheiro desde a infância, protetor meu de longa data, como ele poderia me fazer mal pra mim depois de tantos anos de convivência mútua e pacífica?

Foi aí que eu lembrei duns caras das antigas, os gregos. Eles tinham a palavra farmaco, que abrangia aquilo que faz bem e mal ao mesmo tempo. O flúor é, foi e sempre será, um farmaco. Durante toda minha vida ele foi uma faca de dois gumes, me inquietando enquanto protegia meus lindos pré-molares.

O que escolher afinal? A dor no dente ou o inquietamento constante?

Como os gregos estão (quase) sempre certos, apelo a eles de novo: dessa vez ao meio-termo aristotélico, a óbvia teoria que diz pra você ponderar bem as coisas e não ser radical em nenhum lado, ou seja, ficar em cima do muro.

Dito isso, continuarei escovando meus dentes com flúor e não fazendo bochecho com ele. Claro, tudo calculado para poder contar mais duas coisas na minha lista de pestes e continuar reclamando delas pras pessoas a minha volta!

ultimamente tenho escutado muita música dançante

a parte estranha é que eu tanto não sei quanto não gosto de dançar.

Feb 28, 2007

Coldplay, Via Funchal 28/02

O segundo show que o U2 fez no Brasil ano passado não foi televisionado, a platéia não era ocupada por patrocinadores e não haviam crachás de imprensa ou áreas vip reservadas. Foi por isso que Bono Vox soltou que aquela era nossa festinha particular para um Morumbi lotado. Pois foi um ano depois que eu descobri o que viria a ser uma real festinha particular dada por uma grande banda: o Coldplay faria um show na mesma São Paulo para uma massa aproximadamente quarenta vezes menor: 2750 pessoas.

Assim como os irlandeses, o show de Chris Martin e cia. é a experiência do pop em sua apoteose, o espetáculo em sua forma mais evoluída, ou pelo menos até agora. A diferença é que enquanto o U2 apela para a megalomania de telões gigantes e leds do tamanho de carro para ser a maior banda do mundo, o Coldplay faz um caminho intimista e requintado para chegar ao trono, seja na perfeição do som ou nas inacreditavelmente belas luzes do palco.

Chris Martin não traz pessoas do público para seu palco inalcançável: é ele que desce ao nível dos fãs, causando a sensação de que um ser extraplanar está ao nosso alcance. Ele não fala durante horas sobre as nações unidas, quase nunca fala diretamente com o público, mas se comunica retorcendo, gritando em falsete e dançando freneticamente como uma espécie de Thom Yorke mais digerível.

Se o ingles esbanjam presença de palco, fica devendo muitos e muitos hits em relação ao irlandes com nome de bolacha. Mas músicas do naipe de Yellow, Clocks e Talk não são ignoráveis. Não acredito em outra banda no mundo com três cds lançados tenha tido tantos hits quanto eles.

A continuação dessa história cai no lançamento do novo álbum da banda, previsto para esse ano. A expectativa de que finalmente fossem reveladas músicas dele aqui no Brasil não foi correspondida. Quase nada se sabe até agora do quarto álbum a não ser o nome do produtor: Brian Eno. Talvez o mais influente anônimo da música, foi ele quem criou a Ambient Music e produziu gente como Talking Heads e, é claro, o U2. Depois de três álbuns é visível que o Coldplay, não irá se renovar sozinho e o objetivo de Chris Martin de ser o novo Radiohead já está MUITO atrasado. Agora resta saber se com uma mãozinha de Eno eles poderão roubar a coroa e substituir o U2 no topo do rock mainstream...

Feb 11, 2007

brinquedos que sinto inveja

nos momento que a rinite ataca eu gostaria de ser igual a um senhor cabeça de batata com seu maravilhoso e invejável nariz removível.

Feb 8, 2007

falta de internet em casa

desculpa boa, concisa e incontestável para eu não estar postando muito ultimamente.

povo que não tem virtude acaba por ser escravo

dá uma boa olhada na frase do título.

supondo que você não vai achar que ela explica toda o rumo da história mundial, tu vai concordar comigo que ela é bem pesadinha até prum fascista de primeira né?

pois esse verso é cantado em uníssono no único estado do país em que seus habitantes sabem um hino de cor.

ah, e é claro, eles se orgulham disso!!!

chuta qual é o estado...

Jan 21, 2007

de volta ao vol. 4, dez anos depois

Eu descia a teodoro sampaio ontem quando me deparei com uma daquelas bandas que tocam na frente das lojas de música nos fins de semana. tirei meu fone de ouvido pensando que ia ouvir o jazz insosso de sempre quando percebo que aqueles tiozões na calçada tavam mandando cover de sabbath...

Ah, sabbath.... é aí que a nostalgia bate forte: meu primeiro cd, comprado com oito anos de idade, era o primeiro álbum do black sabbath. eu era um pequeno tiozão do rock. Foi o mesmo sabbath que moldou minha educação musical quando um ano depois um primo foi morar no meu quarto levando junto sua discografia da banda, original, afinal, era 1997. Um garoto prodígio, eu já entendia as mudanças de vocalista da banda e sabia falar sobre as vantagens e desvantagens de Dio e Ozzy, além de meter o pau em Tony Martin, o sempre esquecido último vocalista da banda.

Lembro da minha paixão por Changes, do vol.4. Eu me perguntava como uma música tão linda, só com pianos, era considerada de metal. Aquilo realmente não fazia nenhum sentido pra mim.... Agora, dez anos depois, eu redescubro de novo uma música do mesmo vol.4 e que me deixa embasbacado igual aquele menino estava com Changes a dez anos atrás.

Essa música é Snowblind, e, puta que o pariu, que música!!!

Logo de cara um riff bem cadenciado dá a assinatura do sabbath, caindo direto numa levada arrastada que o resto do mundo um dia ia copiar e chamar de Stoner Rock. Bill Ward carrega a música com pratos que te levam balançando até a entrada da voz de Ozzy, que se mostra sem pressa a música inteira.

O momento em que ozzy arrasta os vocais cantando my eyes are blind but i can seeeeeeeee, ele emociona dum jeito que só esse hard rock seminal era capaz, e logo se se é levado num solo daquela época em que as pentatônicas eram super originais.

Mesmo quando a quebradeira fala alto na música, ainda não há pressa: o sabbath sabe dosar esse ritmo melancólico mesmo nas horas em que tudo estora, culminando com um solo final daquele gênio das seis cordas.

Um dos raros exemplares de música perfeita duma das bandas mais importantes, no mínimo, da minha vida. Se não conhece, vai atrás. É coisa pra ser ouvida cinco, dez, quinze, vinte vezes seguidas...

Jan 19, 2007

sobre o ano passsado, finalmente

estava sem internet até agora, então, chegou agora: os melhores álbuns de 2007. será curtinho, só pra ficar aquilo de mais relevante que eu ouvi nesse ano, e pra você escolher um e ir atrás também.

o melhor do ano: Blood Mountain, Mastodon

No mainstream tem gente que acha que o metal se renova com o new metal. Os indies modernosos acham que é fazendo samplers, usando sintetizadores excessivamente ou flertando com o pós-rock.

Tá, tem muita banda da hora no meio das duas coisas. Mas tem aquele metal no sentido mais metal da coisa, manja? Sabe aquela coisa bem...true? Então, é aqui que o Mastodon entra. Neste álbum está tudo que o metal tem de melhor: guitarras dobradas, baixos dobrados com essas mesmas guitarras, vocais gruturais, pedais duplos, virtuose em todo os instrumentos, letras sobre lobos e congêneres e aquele mesmo flerte com o hardcore que o slayer tinha. É dentro disso que o Mastodon inova, um pouco de jazz nas melodias e na bateria, a ajuda do mano do Queens of The Stone Age e um dos melhores bateristas da atualidade levam o Mastodon a outro patamar.

O Mastodon fez um álbum que dá vontade de deixar o cabelo crescer de novo, se vestir de preto e deletar do computador todos seus cds que não tem sangue na capa. Por isso que é o melhor do ano, facinho, facinho.

o que eu já esperava: The Eraser, Thom Yorke

Se pá a melhor cabeça musical dos últimos muitos tempos, ninguém duvidava que o solo do líder do Radiohead seria sensacional. Não revolucionou a música de novo, tadinho. Mas mandou um puta álbum, algo como um Kid A mais pop.

O baixo, presente em quase todo o cd, manda melodias dignas de qualquer negão da década de 70. Músicas como Harrowdown Hill e Black Swan tem um groove absurdo. Isso, combinado com o sintetizadores modernosos e a voz de Yorke, deixa o álbum parecendo uma ótima mistura de IDM e Funk.

Dado o ótimo aperitivo, é esperar o novo do Radiohead esse ano.

o que eu não esperava: YS, Joanna Newsom

Harpas, violinos, um pianinho de vez em quando, vocal agudo, músicas de quinze minutos, nenhuma percussão e letras sobre uma cidade fantástica inundada. Um álbum acústico de metal melódico? Não. Um álbum inclassificável do qual eu nunca vi nada parecido.

Da preguiça de ouvir? Claro. Mas as imensas músicas descem maravilhosamente bem já nas primeiras ouvidas. As melodias vocais te carregam o cd inteiro enquanto os outros instrumentos fazem uma textura maravilhosa. Tudo mixado por Jim O`Rourke, o gênio por trás dos da produção dos álbuns do Wilco. Sem nada de fofura indie, essa mulher mandou o álbum mais lindo e melodioso do mundo.

Jan 14, 2007

acho que eu nunca tinha prestado a devida atenção na sequência de abertura de filmes até hoje e pensado o trampo e a criatividade que isso envolve. só fiz isso depois de ver uma lista das dez melhores aberturas de filme de todos os tempos. vale a pena perder uns vinte minutinhos ali.

pra tu dar uma olhada numa antes, que por sinal não está na lista, segue aqui embaixo a do Psicose. simples e impecável.



outra maravilhosa, só que aí mais nova: Snatch.

Jan 8, 2007

As incríveis listas da Wikipedia, pt.2

idéia

os outdores estão sendo retirados de são paulo.

mas como os queridos juizes da nossa nação curtem proteger alguns poucos em nome da ordem e da falta de beleza, alguns deles não devem sair ainda, protegidos por algumas liminares e outros subterfugios "legais".

para esse outdores protegidos pela lei, um holandês, chamado Helmut Smits, me trouxe uma ótima idéia: plante uma árvore na frente deles.

o único problema é que muitos outdores em São Paulo necessitarão de coisas maiores que secóias para serem tapados.

Jan 2, 2007

se alguém ainda não viu

é perfeitamente plausível, afinal era fim de ano e tu poderia estar na praia. não é um vídeo tão bom assim, mas vale pelo momento histórico e por comprovar a máxima de que TUDO vai parar no youtube.



sadam muerto.