May 24, 2007

cansado de me foder toda vez que ia num restaurante diferente e arriscava uma pimenta inédita, achei que deveria ser criado uma escala para medir a ardência delas. A idéia era ótima: você pega o rótulo, olha a ardência, lembra quantas gotas acha necessário e pronto! Nada de pratos insossos ou, pior, queimando frios.

Lembre-se que enquanto o nosso mundo terreno cresce num ritmo frenético, o mundo das idéias de Platão está lá, minguando há milhares de anos conforme os humanos pegam as coisas de lá. Portanto a chance de alguém já ter tido sua idéia é sempre grande, e essa seguiu a lógica.

O cara que ferrou minha chance de ter dinheiro, fama e meu peso em pistache era chamado Wilbur Scoville. Em 1923 o cara criou uma medida para a apimentação das coisas: a escala de... Scoville! Genial, ela, obviamente, mede a quantidade de capsaicina na pimenta!

Capsaicina? Isso! A substância que faz arder na pimenta. Na época, ele colocava provadores humanos(!) para sentir a ardência da coisa. O grau dependia de quantos litros de água com açucar eram necessários para diluir a pimenta a ponto de ela ser neutralizada.

Com o tempo a coisa se ajeitou, afinal, deixar a galerinha tomando água apimentada não era nada científico e, muito menos, politicamente correto.

Hoje em dia, com computadores, a coisa manteve o mesmo princípio dos litros de água para neutralizar a pimenta. A escala vai de 0 (o pimentão) até 16.000.000(a tal da capsaicina, pura).

O amado molho tabasco verde chega a meras 800 unidades Scoville. Já o tabasco vermelho, mais arisco, pode chegar a 5,000. Fortes? Não muito, encarar uma habanero chilena, com 350,000 unidades Scoville, não deve ser tarefa fácil. São setenta vezes o poder do molho vermelho da Tabasco.

Daí pra cima, a coisa já não é nada ingerível: o spray de pimenta usado pela polícia chega a 5.300.000 unidades Scoville. Efeito moral? Só se a moralidade for algo mil vezes mais forte que uma Tabasco pingado diretamente no seu olho.

Obrigar todas as pimentas a terem o seu grau gravado no rótulo a priori seria uma idéia muito boa: nada mais de ardência, lábios amortecidos e uma diminuída considerável no gasto em água. Mas a graça da pimenta está na sua aleatoriedade, na coragem de enfrentar um molho feio num boteco ainda mais feio. No fim das contas, é esse aleatório molho colorido que traz emoção a tão entediante e repetitiva comida cotidiana.

May 23, 2007

saps

Devo ter tocado violão seriamente durante dois anos da minha vida. Jogado xadrez durante uns três. Tênis durante uns dois. Os outros esportes também nunca passaram disso. Fui volúvel em todas as ideologias políticas, sem nunca durarem mais que três ou quatro anos, e nunca abracei uma religião muito fortemente. A faculdade chega capengando aos três anos e não acredito que qualquer uma das minhas paixões atuais vá muito longe.

De escotismo, foram dez.

Nenhuma paixão na minha vida foi tão grande. Nenhuma chegou perto de durar tanto tempo. Foi na semana passada, junto a minha impossibilidade de ir no próximo Jamboree, depois de muitas batalhas internas, que defini minha saída do movimento escoteiro de vez, justo quando o movimento beira seus fortemente simbólicos cem anos.

A vontade de eternizar aqueles que foram, e provavelmente serão, os dez anos mais fudidos da minha vida é grande.

Sontag falava que lembrar e eternizar algo num suporte, como um texto, é tosar essas lembranças, selecioná-las, castrá-las. Trazer algumas a tona em detrimentos de tantas outras seria fraco de minha parte, e de forma alguma um blog seria o lugar pra isso. Não farei isso.

Dizer aquele velho até logo confinado num apartamento, longe das nossas tão estimadas e estereotipadas fogueiras, é horrível.

May 6, 2007

fábula real.

um fazendeiro foi até a cidade falar com a sua psicóloga: queria matar um homem. seu motivo era uma disputa de terras, uma longa batalha entre sua família e a de seu vizinho.

intransigente, achava que a única solução para o impasse era o assassinato. porém, algumas horas de tratamento foram suficientes para que a psicóloga o convencesse que matar o vizinho não era a melhor forma de resolver a situação.

convencido pela psicóloga, tomou o caminho de casa.

no dia seguinte o fazendeiro foi assassinado pelo seu vizinho.

May 4, 2007