Nov 1, 2007

lembrei de mais uma que rolou num ponto de ônibus

nessa cena, eu também estava com os fones de ouvido. daquela vez, lembro bem, ouvia slayer pois faltavam poucos dias para o show.

quem interrompeu minha concentração no pedal duplo foi um velhinho bem vestido. ele abanava, apontava pro chão. abanava e apontava pro chão, de novo.

quando finalmente tirei o fone, entendi o que ele falava: era para eu parar de sentar em cima do corrimão e tirar os pés de cima do banco. e sentar no banco, que é o lugar de sentar. afinal já imaginou se uma criança põe a mão aí onde você está com o pé e depois põe na boca?

fiquei perplexo. o ponto inteiro olhava pra mim, esperando a reação que eu iria esboçar. desanimado com a insistência do velhinho, desci do corrimão para não causar intriga. enquanto isso ele ia embora com o sorriso da vitória estampado no rosto.

nesse momento, todos no ponto seguiam olhando para mim, ainda apreensivos. talvez esperando um desfecho. naquela hora, eu ainda achei que eles me entendiam. afinal todo mundo sabe que não se senta nos bancos dos pontos de ônibus em são paulo: eles foram feitos de forma desconfortável para que ninguém conseguisse dormir neles. você pode sentar reto, torto ou de revesgueio.. não tem como: o banco sempre fica desconfortável.

a única solução para isso, que qualquer pessoa sem atrose já descobriu, é sentar em cima do corrimão. mas ninguém ali no ponto entendia isso, todos seguiam quietos, ainda esperando alguma frase de efeito.

e a frase veio duma senhora, que aparentava estar na idade da menopausa: veja essa geração, com ela estamos perdidos! eles não vão nem querer pagar nossa aposentadoria.

fiquei completamente perplexo, mudo. com a mesma sensação que se deve sentir ao ouvir de sua namorada te traí com seu melhor amigo.

logo, a tia entrou no seu ônibus. triunfante, vitoriosa. não consegui falar Você não vai ter aposentadoria porque sua geração trepou pouco e não fez filho para pagá-la! Ou quem sabe Já ouviu falar de welfare state, sua vaca? É na suécia, não aqui! vai tomar no seu cu e faz uma previdencia privada!

nada, não consegui falar nada! entrei no meu ônibus e fui embora. derrotado. duas vezes.