sucedeu-se durante um evento sobre mobilidade urbana hoje.
a repórter, pragmática, perguntou ao urbanista:
"o uso de bicicletas vai diminuir os congestionamentos dos carros?"
congestionamentos? what!?
a mudança do carro para a bicicleta não é a mera mudança de quatro rodas para duas.
ela é a ponta do iceberg de uma sociedade em que a rua e a cidade são esvaziadas para se tornarem um espaço de passagem de um bloco para outro.
a bike é a retomada das ruas. a ressurreição do espaço que hoje serve ao congestionamento.
em suma: a bicicleta não vai para uma via diversa para que os carros possam fluir melhor. ela deve tomar a rua, espaço humano.
mas, é claro, o que interessa para redação não é isso. afinal, será que a atitude vai diminuir o congestionamento? aquele, o maior problema da sociedade que deve ser sanado com soluções como a autobahn que o doutor Paulo Maluf queria fazer sobre o tietê, sabe? poderá a classe média obesa sair cedo para o trabalho amanhã?
* * *
a redação daquela repórter fala a língua do governo autocrático. a sociedade em que o carro é o dogma intocável. o axioma diante do qual o ser humano perde seu poder de reflexão.
ou você acha que os quatro bilhões de reais anunciados pelo governo brasileiro para salvar a indústria automobilistica na semana passada foram mesmo bem aplicados? quantos kms de ferrovia ou, mais barato, ciclovia poderiam ser feitos?
problema não só brasileiro, claro.
a "change" de Obama, na qual nunca acreditei, já se tornou mais do mesmo. debutando na casa branca em conversas com Bush, ele fez o seu primeiro pedido ao atual presidente: um auxílio urgente para a industria automobilistica.
diga-se de passagem, já foi atendido.
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